A mesma coisa de sempre, mas em outras palavras

Cada dia novo é só um dia a mais. Tudo igual, até as diferenças são iguais, seguindo tabelas, seguindo prescrições.

Eu não vivo, eu mato horas fazendo coisas que vão me levar pra diferentes caminhos, vivendo com a esperança de que no futuro tudo vai fazer sentido, vai mudar. Apostando cada centavo e cada segundo a mais que eu vou finalmente, um dia antes ou depois, chegar onde eu quero. Ser diferente, ter dimensões diferentes, ter visões diferentes, sensações e sons novos, melhores que os de hoje.

Mas até lá, eu olho pro teto, olho pro céu, olho pro livro, esperando o tempo chegar.

Atrás do mesmo objetivo há anos. Quando achei que tivesse alcançado, era tudo ilusão, uma das fortes e grandes, que me lançou bem longe. Hoje tenho minhas dúvidas e certezas, mas me obrigo a acreditar, todos os dias,  que o tempo ainda vai chegar. Ainda tenho muito, quase uma vida inteira, pra esperar, pra alcançar. Eu sou jovem, o mundo pode me esperar. É o que todos dizem, mas eu tenho lá minhas dúvidas. Logo eu, um cara obstinado, que não enxerga nem sente nada além do objetivo, que quer ser sempre direto e preciso. Logo eu, preciso esperar pelo tempo.

Eu sei que sempre está ficando mais perto, mas eu também sei que meu combustível pode acabar um dia. Será que eu tenho o bastante pra chegar lá? Será que eu vou alcançar?

É tudo um enigma, a ansiedade, a pressa, a esperança, a vontade, a necessidade, a ilusão e a verdade.

Até hoje, o que eu aprendi é que ganha-se muito pouco na caminhada, perde-se muito mais do que é esperado. No final das contas, tudo termina numa eterna dívida, paga com a vida, recebida pela morte.

Tem muita coisa ignorada no caminho, muita coisa que aconteceu e eu não tinha visto. Tarde demais, já era, não tem como voltar mais tarde.

Mas o que eu posso fazer? O que diabos pode ser feito? Ouvir aquela outra música antes que eu chegue no fim. Antes de todos, depois de qualquer um, é lá onde eu estou.

Às vezes eu tenho a impressão de que sou o único que enxerga essas coisas. Às vezes eu queria nunca ter enxergado essa verdade, viver na projeção,  na ilusão.

Mas a realidade dói, tira de você o que nunca mais será reposto.