Eu gosto de correr. Gosto muito mesmo.
Meu interesse por corridas vem crescendo há alguns meses. Antigamente eu ouvia as pessoas dizendo "você anda pulando" e achava isso ruim, achava feio pular enquanto anda. Até que, algum dia, não sei quem me disse "andar pulando é coisa de corredor" e eu me senti bem: meu defeito havia se tornado, com o poder de 6 palavras, uma dádiva divina. E então, me imaginei como corredor. Mas era só imaginação.
Agora, em 2012, comecei a caminhar. Todo fim de semana eu caminhava 1km. E então comecei a caminhar 2km. Até que, do nada, decidi caminhar mais e fui longe, muito longe: 14km num só dia. Fiquei assustado com os cálculos da distância que percorri, mas muito feliz pois nessa corrida encontrei um lugar muito bonito aqui em Franca, livre de carros e barulhos. Cheiro de carvalho no ar, bancos, pedrinhas no chão, grama. Um lugar perfeito para o descanso. Céu limpo, sol ameno, aquele foi um dos dias mais felizes aqui nessa cidade.
Mas caminhar assim não adianta muito, quer dizer, fins de semana não são suficientes para meu sonho: me tornar um corredor muito bom, rápido, eficiente e resistente.
Começar a fazer academia foi uma benção, pois agora posso treinar diariamente a corrida. No começo, 10 minutos de corrida leve. Agora já consigo fazer 20 minutos de corrida mais pesada, sem me cansar muito. Preciso treinar muito ainda, mas vejo resultado desde já.
Aqui em Franca, tenho um apelido: Forrest Gump. Sim, o contador de histórias, mas não sou conhecido assim por contar boas histórias: meu apelido se deve às corridas.
Meu amigo, Matheus, começou a me chamar de Forrest no dia em que ele me conheceu. Eu corri tanto aquele dia, atrás de documentos, xerox, impressões, que ele enxergou o personagem de Tom Hanks em mim.
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"Run Forrest, run!" |
Mas, diferente de Forrest, eu corro por um motivo: quando começo a mover minhas pernas para frente, dou um stop no mundo. Paralizo todas as ações que estava fazendo, as preocupações, os pensamentos, tudo. As únicas coisas que se passam na minha cabeça são o movimento das pernas, a perfeição da pisada, o avanço, o vento, a velocidade. Nada de problemas financeiros, ou amorosos, ou familiares: tudo se torna secundário, posso lembrar deles depois da corrida.
Eu gosto de correr dessas coisas. Ventilar a mente, dar tempo para o tempo acontecer. Eu só gosto de correr porque assim deixo meus problemas para trás, porque assim fico livre deles.
Hoje assisti Forrest Gump. A última vez que fi o filme, bem, já faz algo como oito ou cinco anos, não sei. Mas me lembro: na época, achei o filme legal, criativo, com uma boa lição. Hoje, vejo tudo de uma maneira diferente.
Meu amigo disse que eu sou parecido com Forrest em dois aspectos: pela corrida e porque consigo me concentrar no que quero, direcionar todos os meus sentidos para meu objetivo, apesar de qualquer coisa que esteja acontecendo no mundo ao meu redor.
Não sei se essas duas características de Forrest são boas, mas sei que são minhas. Forrest correu pra tentar organizar a cabeça: perder a mãe, ver Jenny ir embora, não são coisas fáceis. Ele simplesmente corria e eu acho isso ótimo. Eu tenho muitas coisas em comum com Forrest, mais coisas do que eu gostaria de ter, mas prefiro não pensar muito no assunto.
Infelizmente, nem tudo se resolve correndo. O tempo, por exemplo, vai passar devagar até eu conseguir o que mais desejo. Às vezes acho que esse tempo nem vai passar, ele vai desistir de se deslocar e vai ficar eternamente parado, me obrigando a desistir do que quero contra minha vontade. Mas o tempo corre quando quer e para quando quer, não há nada pra fazer. "Just let the flow take you"
E é nesse momento que vou precisar correr muito, para esquecer de tudo e voltar a ser eu mesmo. Não sei se isso é bom ou ruim, mas é a única escolha que tenho.
Corra, Sílvio, corra!
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