Eu tenho aversão por gastos. Não sou chato com isso, mas prefiro economizar. Sei lá, economia é uma boa, eu acho muito útil. Economizar energia elétrica, água, comida, roupas limpas. Eu não sou daqueles - como é a palavra mesmo... - bitolados que perde o tempo e os prazeres da vida economizando. Na hora de um bom banho, eu prefiro gastar água. Mas sei gastar na medida.
Não é bem aquela síndrome do "oh meu deus e se faltar pro dia que virá?", mas é algo que veio inserido em mim, desde pequeno eu economizo. E tenho uma pressa lancinante pra fazer as coisas. Quero tudo bem feito e rápido. Tudo com eficiência, não é pedir muito, certo?
Eu me acostumei a fazer duas, três tarefas ao mesmo tempo. Enquanto estudo, ouço música e organizo meus livros. Enquanto faço almoço, leio um texto. E faço tudo com eficiência. O serviço sai, na maioria das vezes, bem feito, pois me esforço pra cacete. Um homem multi-tarefa, uma máquina encefalizada e com músculos, movida a vários nutrientes e polivitamínicos. Uma máquina que sabe diferenciar 4 teorias evolutivas com detalhes, que sabe todos os truques das 96 fases do Super Mario World. Uma máquina que entende de palavras, texturas e tem desejos e vontades. Uma coisa complexa.
Amigo, como você já deve ter percebido, eu preciso sempre estar no lucro (e duvido que você goste de perder). São 4 as forças que regem o ser humano: a fome, o sexo, o dinheiro e o tempo. O último é, praticamente, o mais importante de todos. Qualquer um consegue ficar um dia sem comer, um dia sem sexo, um dia sem grana. Mas são poucos os que conseguem perder um dia inteiro. Até pra relaxar, o tempo tem que ser bem medido e bem gasto.
E não me venha com a velha história de "relaxa cara, tira os problemas da cabeça, esquece a vida, sai pra ver o céu azul". Porra nenhuma.
Não é o céu azul que vai trazer dinheiro pra dentro de casa. Não é relaxando que eu vou aprender mais. Não é jogando tempo fora que eu vou, finalmente, me tornar um médico. Na boa, as coisas funcionam melhor sem exagero e sendo bem planejadas. Mesmo que eu anseie por um dia tranquilo, mesmo que eu seja louco pra perder a noção do tempo e só aproveitar a vida, ainda tem muito chão pela frente. Prefiro perder um dia de diversão e ganhar 100 de tranquilidade (que podem se tornar diversão). Tenho muito o que fazer, é muita incerteza. É isso que me impede de acordar com um sorriso na cara e dizer "rapaz, hoje vou ter um bom dia".
Eu preciso de mais tempo. Preciso de um crédito, um ano grátis cairia bem. Sim, um ano que não se contabilizasse, um ano que não entrasse na folha de pagamentos que todo mundo tem no final da vida. Um ano completa e inteiramente feito pra mim. Um ano sem excessos, ninguém pra interferir no meu caminho, sem pessoas pra conversar, sem entretenimentos, sem lágrimas ou sorrisos, tudo na medida exata. Uma porra de um ano centrado em atividades que me fizessem crescer e finalmente sair do buraco infernal que se chama Incerteza.
Mas isso é pedir demais. Eu preciso construir esse ano pra mim, da maneira que eu quiser. É minha vontade, talvez minha necessidade. Um só ano, feito a la Sílvio.
Minha bisavó costumava dizer "tenha medo de quem quer". Ela dizia que certos tipos de pessoas conseguem o que almejam, pois lutam muito. Acho que esse pensamento é deveras determinista, mas era a verdade dela. Uma das muitas verdades que existem por aí.
Como sempre, seja pra concluir um texto ou encontrar uma resposta num momento de aflição, um belo "foda-se" funciona perfeitamente. Eu adoro essa genialidade aliada à simplicidade.
Bem, foda-se.
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