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That's what I'm talking about |
Quando começo a assistir o filme, me vem altas lembranças, de lugares, de coisas ditas, de pensamentos. Eu, no alto de meus 5 anos de idade, cantando e dançando ao ritmo de Sandy & Junior "Power Rangers". Eu tenho certeza absoluta de que, se você tem até 20 anos de idade, muito provavelmente dançou essa música. Várias lembranças, algumas divertidas, outras não.
Veja bem, meu caro: lembrar do passado é um processo, até certo ponto, divertido. Eu consegui rir pra caralho. Cheguei à conclusão que, desde sempre, fui um cara lindo e charmoso. Desde sempre fiz caretas pra tudo quanto é câmera fotográfica ou filmadora, pois assim consigo passar a impressão de que sou engraçado.
Em questão de minutos de vídeo, pude ver como meus pais já foram jovens. Pude perceber que minha mãe era alguns quilinhos mais leve. Também acabei percebendo como eu sou parecido com meu pai. Hoje ele é mais redondo, mas naquela época, 10 anos atrás ele era bem mais magro. Ele assistia ao filme calado, olhava tudo com uma cara de quem lembra de muita coisa.
Pude rever meu avô, pelas ondas eletromagnéticas lidas na fita de VHS e transmitidas na televisão. Constatei, no final das contas, que ele sempre estará vivo e poderá agir, brincar, falar e dar aqueles assovios típicos, desde que eu tenha um tocador de fita VHS e uma televisão.
No vídeo, mostrava desde o começo de meus 4 anos de idade até quando eu tinha uns 8 ou 9. Na gravação, picotada em várias partes, obviamente, pude ver minha casa sendo construída, é muito divertido. No começo, o terreno cheio de materiais de construção, crianças correndo e brincando no meio das coisas. Eu e meu irmão brincavamos com toda a segurança do mundo, num monte de terra vermelha; enquanto ele está com um caminhãozinho nas mãos, eu seguro uma picareta de uns 10kg ao lado dele. Como vocês podem ver, sempre fui muito responsável e comportado.
Num momento, aparece meu irmão dançando, ele devia ter um ano de idade. Ah, Padre Marcelo Rossi, aquela sua música - chata pra cacete - "erguei as mãos/e dai glória a deus" permeou por completo os momentos em que o Arthur dançava freneticamente em cima da barriga do meu avô. Sim, meu avô tinha uma barriga grande o bastante para se dançar em cima dela.
Alguns minutos adiante significam um, dois anos no futuro: a casa completa, não mais materiais de construção. Uma horta, fechada por algumas grades; o carro estacionado lá perto do portão; eu e meu irmão correndo pelo quintal e brincando, minha mãe colocando roupa no varal. A vida parecia ser tão mais simples, caramba!
Numa parte da gravação, eu estou internado, num quarto de hospital. Quantas mil vezes eu fui internado? Bronquite, sempre presente. De memória, posso lembrar que em algumas situações eu e meu irmão ficávamos internados no mesmo quarto. Pode até ser que essa parte não seja divertida, mas até as coisas ruins vem, como lembranças, pra integrar minha mente.
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Eu sempre via essa imagem, no consultório antes de ser internado |
Tantas outras situações, é até difícil descrever. Depois de assistir tudo (mais de 1h de vídeo), depois de dar altas risadas, ficar feliz em vários momentos, perceber o quanto meu avô, meu pai e eu somos parecidos, posso continuar meu dia.
Mais tarde, quando meu irmão mais novo, Henrique, chegar da escola, vou mostrar o filme pra ele. O Henrique tem só 4 anos, precisa ver como eram as coisas antes dele nascer, como era a vida. Eu, que já briguei muito com ele por causa das artes que ele teima fazer, pude ver na TV que eu era só um pouco menos encapetado que ele.
O Henrique já me perguntou se nasci de óculos, se nasci grande, se o Arthur sempre foi grande. A vida, pra ele, começou em 2007. A vida, pra mim, começou em 1993, tem muita diferença aí.
Eu tenho certeza que ele vai adorar assistir o passado - o meu passado - através desse vídeo, dessa gravação. Um bando de ondas, um montão delas, gravadas, recordando parte da minha vida. Eu estou realmente maravilhado com a capacidade humana, de poder prender um pouco de tudo do passado, meu avô, minha infância, a construção da casa, os cachorros de estimação.
Um dia pretendo mostrar essas coisas pros meus filhos. Pretendo gravar meus pais e meus irmão, minha família, agora, só pra poder prender todo mundo na memória.
Porque as coisas do mundo real, as coisas vivas acabam morrendo, se deteriorando, sumindo. Mas as memórias sempre estão por aí, seja em forma de eletromagnetismo ou na própria mente. Basta lembrar do passado - ah, passado!
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