7 de jul. de 2011

No caminho da escola

Eu nunca te vi assim, tão bonita. Talvez fosse um efeito da luz de sódio, no poste. Também, tava tudo cheio de fumaça dos carros, ou simples neblina. Não sei.

Você estava longe, andando com uns tênis allstar, fazendo poc poc poc, na poça d'água. Umas folhas de papel na mão, outras dentro do fichário azul.

Cabelinho preso, óculos meio tortos, de aros vermelhos. Andava de um jeito esquisito, como se carregasse muito peso.

Talvez fosse a mochila com quatro ou cinco livros. Talvez, pela sua baixa estatura e complexidade física de menina meiga, não conseguisse aguentar esse peso todo.
De longe, carregando minhas coisas, me ofereci para te ajudar.

Fui respondido com um sorriso "não precisa". Ofereci mais uma vez, mostrando um braço vago. Você parou, tirou a mochila das costas, entregou-a.

Continuamos andando, em silêncio, logo após alguns sorrisos. Meus sapatos, grandes, faziam tuc tuc tuc. Seus tênis, pequenos, faziam poc poc poc.

Dizem que eu ando esquisito, meio que pulando. Você anda jogando os pés pra frente, sem preocupar com a cadência de um passo perfeito, desconhecido para nós dois.

Soprou um vento congelante. Você, sem blusa de frio, novata na escola. Eu, já velho de guerra, curtia o tempo com minha blusona e braços de fora, naquele tempo ártico. Parei. Ofereci-a para você. Com uma vozinha sem graça, meio que olhando pra baixo, você me agradeceu com um sorriso que só consegui decifrar através de uma mecha de cabelo que lhe caía no rosto. Com leveza, limpei toda a visão, para poder ver melhor esse sorriso. Bom.

Andamos calados, meio introvertidos. Te puxei pelo braço pro meu lado, quando você ia atingir em cheio a placa de Pare. Talvez falta de atenção. Talvez simples bobeira.
Você achou, em primeiro lugar, esquisito que eu te puxasse. Só entendeu depois. Me deu um sorriso largo, daqueles de dia ensolarado. Gostei de ver - embora não conseguisse sorrir de volta. Só conseguia admirar seus olhos, talvez fazendo uma cara boba e pensativa, me lembrando de um dia em que eu divagava e você me acordou, dando risada.

Conversamos um pouco, pelos olhos. Você me contava mundos e viagens. Eu via calado, fazendo ponderações e dando algumas gargalhadas. Minhas histórias são pra depois. Agora só quero te conhecer.

Passamos bons dez minutos daquele jeito, andando um do lado do outro. Você, vestindo uma blusa que ia até seus joelhos, maior que seus braços, toda desajeitada - parecia que você evitava pisar num cadarço desamarrado-. Certo momento, sorri sem motivo. Você tirou o cabelo da frente do rosto, piscou com o olho esquerdo. Fez meu dia.

Pronto, estávamos na porta da escola. Subimos os degraus, agora conversando em voz alta, debatendo qualquer besteira.
Passamos pela entrada. Eu conseguia ver suas bochechas, rubras pelo calor que minha blusa dava pra você. Bem, era o calor da blusa, não é mesmo?

Seguimos juntos até a sala. Você senta na fila da parede esquerda, eu na da direita. O dia transcorreu bem, estudos muito produtivos. Não nos comunicamos durante toda a manhã.

Só sei que tudo foi bom. Amanhã acordo mais cedo pra encontrar você, outra vez. Você se esqueceu de me devolver a blusa. Não tem problema, estou certo que ela te aquecerá bastante.
Talvez amanhã eu carregue algo mais que seus materiais.

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